sexta-feira, 24 de novembro de 2023

 

Neologismo

Ismo, sufixo que sufoca,
e no istmo Panamá dá mandioca?
deixa “pra “lá...


O que invoca,
o ritmo dos batuques,
da velha mãe África e seus truques.


“Sufoquismo”, fisiologismo, paisagismo,
liberalismo atento ao dito comunismo,
do istmo do Egito, do Suez,
parece francês, mas dizem uníssonos nãos,
canal naval, por onde passam embarcações.


“Sufoquismo”!
Neologismo esquisito, um tanto constrito,
à censura do politicamente correto,
por certo, incorreto...
Concreto como os ratos no deserto.

sexta-feira, 25 de agosto de 2023

 

Você é!

 

Você é!
Deve ser totalmente diferente,
bem diferente da gente,
somos, por natureza, indiferentes,
porém, para seu bem, melhor seria ser igual a nós,
aqueles que parecem seus, como os nós e os pós,
num ato atroz até perder sua voz,
neste emaranhado de nós.
 
Tem que pensar e viver igual,
tem que parecer o tal,
quase normal e luxuriosamente fatal,
tem que sonhar o mesmo sonho,
sonho libertino,  sensual e carnal, 
se diferente, será terrível e medonho,
indistinta impessoalidade, sem identidade
ai sim, ficaremos à vontade.

sexta-feira, 14 de julho de 2023

 

Pós-modernidade anacrônica.
 
Entre as duas orelhas,
entre o queixo e o infinito,
deve haver uma cabeça,
pode haver massa cinzenta,
onde sinapses e outros processos,
brindam sentimentos de alegria e tristeza,
de amor, de sofrimento e beleza,
que caibam no compasso,
daquele concerto de Stravinsky,
ou na pintura de Kandinsky,
para o confuso instrumentista,
tal o pintor, tal o  concertista,
tintas caídas no chão como restos,
piano em chamas, clama pelos maestros,
enlouquecidos em gestos robóticos,
que comandam uma orquestra gótica,
entre pinceis e batutas malucas,
inapelavelmente anacrônicas,
que param, disparam e silenciam, atônitas.

quarta-feira, 21 de junho de 2023

 

Ela.                                                                                
 
 
Não quer um carinho,
um afago, um beijinho;
ela não quer o amor que consente,
estridente, surpreendente.
 
Ela não quer a intimidade suave,
não quer a doce dança dos corpos nus,  
ela não quer os espasmos do gozo, a loucura,
ela não quer a ternura.
 
Não quer a brisa pura do hálito delinquente,
agradavelmente indecente,
ela não quer a amizade confidente
ela não quer um simples café quente.
 
Ela não quer nada,
ela quer nada.
ela nada
ela não.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

 

Queremos.

 

Queremos poemas obscenos,
lascivos e eróticos venenos,
poemas pornográficos com erros ortográficos.
 
Queremos poemas inconsistentes,
perturbantes poemas indecentes,
excludentes e indiferentes.
 
Queremos que sejam inexistentes,
escritos em estrelas cadentes,
queremos poemas quentes.
 
Queremos o plural de eles,
e o singular de eu,
num poema só seu.
 
Queremos pelo menos um poema nefelibata,
um poema que arrebata e mata,
o poema burocrata.
 
Queremos poemas sem sentido,
queremos poemas sentidos,
queremos o sentido perdido.
 
Queremos poemas malucos,
queremos malucos escritos,
queremos vários ditos.
 
Queremos poemas com palavrão,
gritados a pleno pulmão, com convicção
escritos sem palavras e sem definição.
 
 

 

quinta-feira, 23 de junho de 2022

Ossos e pedras.
 
Senti meu peito apertado,
ao ver ali, na minha frente, deitado,
quase nu, com frio, fome e sem abrigo,
mais um entre a legião dos desamparados.
 
Largados à própria sorte,
calada a noite, espreita a morte,
na disputa pelo pedaço de pão, pela moeda,
pela latinha para esquentar a sopa de ossos e pedras.
 
O camarão, a lagosta e o faisão, a rigor,
degustados, empanturrados pelos comensais,
entre cloches e florais, regados a vinhos provençais,
na cobertura em festa, sobre a marquise sem coberta,
em que mais um “ninguém” deixou sua dor.
 
Você se importou, se incomodou?
Essa dor chorou “ninguém”,
deixada em cova rasa para alguém.   By EC.


quinta-feira, 28 de abril de 2022

 

Inquietação.

 

Mora, em mim, um ser poeta,
criança, porém severo e profundo,
a vigiar as dores do mundo.


Comigo vai aos lugares,
guarda, à seu modo, os sóis e os luares,
recolhe doces lembranças,
de dias ensolarados e de brisa, suaves nuanças. 


Adora sobremaneira brincar
nas montanhas e no mar,
onde sempre quer passear,
e se encanta, com seu modo de encantar. 


Escreve e esquece poemas na areia, 
nas ondas que morrem na praia,
escreve poemas e desaparece
no alto das montanhas onde o sol os aquece. 


Este ser criança, hoje, aprendiz de poeta,
em mim, a mim inquieta,
e, mesmo na mais sombria escuridão,
na mais terrível solidão,
sorri e canta sua canção.         By EC.

terça-feira, 22 de março de 2022

 

Flores nas janelas.

 

Andando, ando procurando,
vasos de flores nas janelas,
enfeitando os olhos de quem anda
à procura de vistas simples e belas.


Avistei a pequena flor, admirado
plantada em um vaso de barro,
viçosa e radiante, bem cuidada,
em uma janela tristemente abandonada.


Um estranho esfarrapado, alienado,
conversava, regava e cuidava dela,
daquela pequena flor, naquela agora linda janela.


Depois como um andarilho sorridente,
saía, deixando a pequena flor contente,
pelo amor e carinho que lhe dera.                By EC.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

 

A valsa da tempestade.

 

Um vento assoviava pela fresta da janela,
em meio a chuva forte que caía, intensa e bela,
e a ela conferia misteriosa atmosfera musical,
convidando para uma dança leve e cordial.
 
Tentei um sentido atribuir e a ela dar
àquela chuva de madrugada tardia,
que encantava meu insistente olhar,
ignorando-me, tocava sua tempestuosa melodia.
 
Pensei que deveria estar por lá!
Dançando em meio ao vendaval,
junto aos poderosos fios daquela chuva teatral.
 
Haveria de ser eu o par do casal,
dançando, sorrindo, rodando, indo e vindo,
alheios à  tempestade, numa valsa magistral.  By EC.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

 Poema lindo que minha amiga do coração Raquel me dedicou.

Ao meu amigo Eduardo Chiarini

Perdida na retórica
do ser ou não ser,
professora ou poeta,
não importa o saber.
Foi você, meu amigo,
no caos, o porto seguro,
onde apartei-me da deriva
do mar de intrigas e escuro
em que me encontrava.

Das Minas Gerais, o jeito de ser;
da nobreza d'alma, a generosidade;
do coração grande, a amizade.
Quem diria que nas conversas sutis
encontraria um amigo tão gentil?
Meu salva-vidas na tempestade
e também nos dias de calmaria,
com incentivos de seguir adiante.
O escritor, poeta e também amante
da ciência mais bela, a Filosofia.

Confiou-me seus contos e personagens, 
entre estórias de realidade e ficção. 
Enveredando por perigosas viagens,
aventurei-me a conhecer um pouco
do que se passava em sua imaginação.
Desde um poeta desejando um café
à professora que desvendava casos,
usando ideias filosóficas e astúcia.
Assim é a bela e competente Ana Lúcia. 

Meu amigo, Eduardo Chiarini,
se um dia por qualquer descompasso,
esta professora precisar se ausentar,
saiba que deixará aqui neste espaço:
gravados seus versos, sua gratidão,
seu respeito, a Diva (Meryl) e abraço 
carinhoso da mais sincera admiração!

* Dedicado exclusivamente ao poeta, 
escritor e filósofo Eduardo Chiarini.


Raquel Fonseca. #ChácomLetras;


domingo, 16 de janeiro de 2022

 

Memórias da Juventude.

(O primeiro amor).

 

Penso que esta lembrança reflete bem,
meu primeiro amor por alguém,
as recordações imprecisas de uma moça,
que em minha rua, passeava por meus olhos
e me extasiava com suas pernas de louça.


Talvez já mais adiante com pouca idade,
outra moça no portão do colégio, um liceu,
sentava-se ao meu lado e conversávamos,
sobre coisas e sobre estrelas, e que felicidade,
devagar encostava seu joelho ao meu.


À noite, num lugar imaginário na cidade
um belo sorriso de moça, linda na verdade,
as nossas ideias salvariam o mundo que sofria,
ela abraçava-me sem maldade e se ria.


Tímido, o coração disparado apressado,
era linda e queria ser seu namorado,
aceitou, consentiu e felizes demo-nos as mãos,
e ao som de rocks e MPB me senti amado.      By EC.

Mais visitadas