quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

 

Queremos.

 

Queremos poemas obscenos,
lascivos e eróticos venenos,
poemas pornográficos com erros ortográficos.
 
Queremos poemas inconsistentes,
perturbantes poemas indecentes,
excludentes e indiferentes.
 
Queremos que sejam inexistentes,
escritos em estrelas cadentes,
queremos poemas quentes.
 
Queremos o plural de eles,
e o singular de eu,
num poema só seu.
 
Queremos pelo menos um poema nefelibata,
um poema que arrebata e mata,
o poema burocrata.
 
Queremos poemas sem sentido,
queremos poemas sentidos,
queremos o sentido perdido.
 
Queremos poemas malucos,
queremos malucos escritos,
queremos vários ditos.
 
Queremos poemas com palavrão,
gritados a pleno pulmão, com convicção
escritos sem palavras e sem definição.
 
 

 

quinta-feira, 23 de junho de 2022

Ossos e pedras.
 
Senti meu peito apertado,
ao ver ali, na minha frente, deitado,
quase nu, com frio, fome e sem abrigo,
mais um entre a legião dos desamparados.
 
Largados à própria sorte,
calada a noite, espreita a morte,
na disputa pelo pedaço de pão, pela moeda,
pela latinha para esquentar a sopa de ossos e pedras.
 
O camarão, a lagosta e o faisão, a rigor,
degustados, empanturrados pelos comensais,
entre cloches e florais, regados a vinhos provençais,
na cobertura em festa, sobre a marquise sem coberta,
em que mais um “ninguém” deixou sua dor.
 
Você se importou, se incomodou?
Essa dor chorou “ninguém”,
deixada em cova rasa para alguém.   By EC.


quinta-feira, 28 de abril de 2022

 

Inquietação.

 

Mora, em mim, um ser poeta,
criança, porém severo e profundo,
a vigiar as dores do mundo.


Comigo vai aos lugares,
guarda, à seu modo, os sóis e os luares,
recolhe doces lembranças,
de dias ensolarados e de brisa, suaves nuanças. 


Adora sobremaneira brincar
nas montanhas e no mar,
onde sempre quer passear,
e se encanta, com seu modo de encantar. 


Escreve e esquece poemas na areia, 
nas ondas que morrem na praia,
escreve poemas e desaparece
no alto das montanhas onde o sol os aquece. 


Este ser criança, hoje, aprendiz de poeta,
em mim, a mim inquieta,
e, mesmo na mais sombria escuridão,
na mais terrível solidão,
sorri e canta sua canção.         By EC.

terça-feira, 22 de março de 2022

 

Flores nas janelas.

 

Andando, ando procurando,
vasos de flores nas janelas,
enfeitando os olhos de quem anda
à procura de vistas simples e belas.


Avistei a pequena flor, admirado
plantada em um vaso de barro,
viçosa e radiante, bem cuidada,
em uma janela tristemente abandonada.


Um estranho esfarrapado, alienado,
conversava, regava e cuidava dela,
daquela pequena flor, naquela agora linda janela.


Depois como um andarilho sorridente,
saía, deixando a pequena flor contente,
pelo amor e carinho que lhe dera.                By EC.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

 

A valsa da tempestade.

 

Um vento assoviava pela fresta da janela,
em meio a chuva forte que caía, intensa e bela,
e a ela conferia misteriosa atmosfera musical,
convidando para uma dança leve e cordial.
 
Tentei um sentido atribuir e a ela dar
àquela chuva de madrugada tardia,
que encantava meu insistente olhar,
ignorando-me, tocava sua tempestuosa melodia.
 
Pensei que deveria estar por lá!
Dançando em meio ao vendaval,
junto aos poderosos fios daquela chuva teatral.
 
Haveria de ser eu o par do casal,
dançando, sorrindo, rodando, indo e vindo,
alheios à  tempestade, numa valsa magistral.  By EC.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

 Poema lindo que minha amiga do coração Raquel me dedicou.

Ao meu amigo Eduardo Chiarini

Perdida na retórica
do ser ou não ser,
professora ou poeta,
não importa o saber.
Foi você, meu amigo,
no caos, o porto seguro,
onde apartei-me da deriva
do mar de intrigas e escuro
em que me encontrava.

Das Minas Gerais, o jeito de ser;
da nobreza d'alma, a generosidade;
do coração grande, a amizade.
Quem diria que nas conversas sutis
encontraria um amigo tão gentil?
Meu salva-vidas na tempestade
e também nos dias de calmaria,
com incentivos de seguir adiante.
O escritor, poeta e também amante
da ciência mais bela, a Filosofia.

Confiou-me seus contos e personagens, 
entre estórias de realidade e ficção. 
Enveredando por perigosas viagens,
aventurei-me a conhecer um pouco
do que se passava em sua imaginação.
Desde um poeta desejando um café
à professora que desvendava casos,
usando ideias filosóficas e astúcia.
Assim é a bela e competente Ana Lúcia. 

Meu amigo, Eduardo Chiarini,
se um dia por qualquer descompasso,
esta professora precisar se ausentar,
saiba que deixará aqui neste espaço:
gravados seus versos, sua gratidão,
seu respeito, a Diva (Meryl) e abraço 
carinhoso da mais sincera admiração!

* Dedicado exclusivamente ao poeta, 
escritor e filósofo Eduardo Chiarini.


Raquel Fonseca. #ChácomLetras;


domingo, 16 de janeiro de 2022

 

Memórias da Juventude.

(O primeiro amor).

 

Penso que esta lembrança reflete bem,
meu primeiro amor por alguém,
as recordações imprecisas de uma moça,
que em minha rua, passeava por meus olhos
e me extasiava com suas pernas de louça.


Talvez já mais adiante com pouca idade,
outra moça no portão do colégio, um liceu,
sentava-se ao meu lado e conversávamos,
sobre coisas e sobre estrelas, e que felicidade,
devagar encostava seu joelho ao meu.


À noite, num lugar imaginário na cidade
um belo sorriso de moça, linda na verdade,
as nossas ideias salvariam o mundo que sofria,
ela abraçava-me sem maldade e se ria.


Tímido, o coração disparado apressado,
era linda e queria ser seu namorado,
aceitou, consentiu e felizes demo-nos as mãos,
e ao som de rocks e MPB me senti amado.      By EC.

sábado, 18 de dezembro de 2021

 

Memórias da Juventude

(O primeiro beijo)

 

Suave, com a ternura de uma brisa,
beijou-me leve a boca, escondido,
e me senti pela primeira vez envolvido,
pela sua breve inocência de menina.


Éramos namorados então,
talvez o beijo tivesse essa razão,
me lembro ter sido na memória da esquina,
do sonho com minha imaginação.


Sua presença vibrante era tal,
que contagiava todos os lugares,
por onde andava, como que flutuando nos ares,
já que o duro chão do concreto não era real.


Sorria como uma rosa em canção, 
branca em um lindo dia de sol primaveril,
devagar, se abria, e refletia o amor que sentia
pela primeira vez no meu coração.                      By EC.

domingo, 5 de dezembro de 2021

 

Memórias da Juventude

(Na praia)

 

Manhã de areia branca; os pés descalços,
o sol forte, as pessoas caminhando devagar,
uns indo e vindo em um suave balançar,
outros correndo como se querendo chegar.


Eu feliz, já que o mar me acaricia,
moleque, seu moço, na areia macia,
longe de tudo, sento-me em qualquer lugar, 
desejo de simples parar e no horizonte fitar.


Um mergulho bem no fundo,
o calor desaparece, se esconde,
as ondas que vem e vão,
neste mistério, vindas de não sei onde.


Final do dia, a noite chegando, o vento insinua,
poesias sem palavras na praia nua,
sem fome, sem nome, sem pressa, distrai,
lua nasce no horizonte sorrindo e o sol se vai.   By EC.

terça-feira, 30 de novembro de 2021

 

Memórias da Juventude

(Indo à praia - Criança ainda II)

 

Um pouco mais adiante, sob o céu nublado
chegando de lugar distante, há horas para trás,
contemplava calado a majestade natural do lugar,
sentindo, ao descer da serra, o cheiro do mar.


Cheiro gostoso que boa lembrança me traz,
o correr do automóvel na noite imóvel,
a estrada deserta, os faróis incertos,
no céu que se descortina esplendido e aberto.


No toca fitas do carro um rock anos oitenta,
talvez MPB, Caetano Veloso, London , London,
discos voadores que meus olhos com ele procuram
e meus sonhos de criança acalenta.


Meu pai exausto, viagem longa querendo deitar
eu entusiasmado imaginando o mar, pousar meu olhar
mesmo que por segundos na profunda escuridão,
daqueles tempos, de pura e divina, genuína emoção.    By EC.

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

 

Memórias da Juventude.

(Na minha rua – criança ainda I)

Eu criança, brincava na enxurrada,
jogava bola e, moleque, pulava os muros,
das sérias senhoras que no inverno dançavam quadrilha
na chuva, barquinhos de papel e armadilhas.


Se riam pelos rios de minha imaginação,
e criança na cidade da rua de pedra,
espera quase deserta já que os amigos são certos,
coisas de saudade e pega-pega inventados e espertos.


Já mais tarde, à noitinha, na esquina,
conversas de meninos e meninas,
a mãe chamava: — já para casa, seu pai vai chegar!
como se lá devesse sempre estar para jantar.


E bem tarde, o céu deslumbrava o olhar,
muitas estrelas a contar, sonhos a sonhar,
dormia acordado, ouvindo sonhando,
o cantar dos pássaros noturnos se amando.   By EC.

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