quinta-feira, 30 de julho de 2020


Sábios.

As crianças são sábias, os bichos são sábios;
As plantas são sábias; o ser humano desatino,
Não enxerga, o que lhe é retiniano,
Tantos e constantes desenganos

São seres especiais, sensacionais
Desígnios de Deus? Ou simplesmente
Aqueles que procuraram entender melhor;
Daqueles que não são seus
Os sentimentos, momentos, sofrimentos?

São pessoas de idade, almas de muitos anos...
Religiosidade?
Tudo depende de planos?
Divinos, insanos!

Pessoas que amaram mais,
Mais se entregaram, mais sofreram;
Trazem marcadas suas estradas;
Nas faces enrugadas e nas mãos calejadas.

Grandiosos sorrisos luminosos...
De quem sabe que a vida é brindar, cantar e brincar
Música e abraços, mesmo sem música dançar
A mão sempre estendida, apesar de negada
Por aqueles que não entenderam nada.                      By EC

Este poema é dedicado à Raquel e seus sábios que vivem em um asilo.
2020

quarta-feira, 29 de julho de 2020


Reclusão.

Meu caro, tem tempo que não vejo algumas coisas,
E assim, lhe pergunto coisas simples
Poderás constatar, nada complicado...
Assim começo:  o céu continua estrelado?

A lua continua iluminando de prata o chão da rua?
A rua continua exalando jasmim nas noites frias de inverno?
O que me enchia de alegria e agora se esvazia
Em uma triste poesia?

Outrora, trôpego, vindo da boemia,
A vida me parecia uma dança, bolero....
Sei que não possui todas as respostas, espero
Por que, talvez eu não às queira, de teimosia.

Afinal, meu caro, certamente não saberás
Será que morri e não vi?
Será que passei por aqui e não vivi?
Será que que a vida me mentiu?
Ou eu, covardemente, me escondi?

É que tem tempo que não converso
Comigo, com você, com ninguém.
Em um longínquo deserto, além...
Na lucidez, meu caro, de quem, não disperso.
 
Certamente não lhe desconcerto,
Não importa se certo ou incerto.                          By EC                              

terça-feira, 28 de julho de 2020


Bares

Estes bares são lugares
Onde pessoas vulgares
Julgam galgar os ares
De seus copos tubulares

Esses bares nas esquinas
São prostitutas meninas.                            By EC

Aproximadamente 1990


Feridas

Estar, enfim...
Não ser por fim,
Não pedi, não tomei, não dei, não sei....
Poderia, se quisesse,
Desejar assim,
Dar o que não pode ser esperado;
revelado...
A frágil mão estendida,
coberta de invisíveis feridas,
Da vida...                                                   By EC

aproximadamente 1990

domingo, 26 de julho de 2020


Exclamo.

Não pense que não amo, exclamo!
Sou um aprendiz de poeta,
Desejo um amor maior, asceta;
Em uma disciplina incerta...

É que acho que tudo é possível
Neste pequeno mundo terrível;
Inocente que sou, crível.

Você; sim você, onde estiver
Olhe pela janela, sem querela
Terá uma vista bela...
De um horizonte, distante, com a essência
Contrastante, com a prisão da prudência.

Pessoas, mato, casinhas, uma cidadezinha
Ou até mesmo o mar, em um horizonte maior
Pessoas maravilhadas, estarão a celebrar
Motivos de viver, cantar e dançar.                  By EC

2020
Minha maneira de ver o mundo.

sábado, 25 de julho de 2020


Distância.

Distância, se quer entrar,
Que entre você, à força!
Não, não é bem-vinda!
Por mais que torça...
É como a noite e o dia,
Lembre-se, arrogante...
O instante...
Entre a estrada e o caminhante;
Mas, no momento exato,
A estrela toca o dia,
O pé, o chão; a mão, a mão.
Meus olhos festejam; alegria
A grande emoção
Pois ali estão.                                        By EC

2020

sexta-feira, 24 de julho de 2020


Descompromissado

Um poema sem pretensão,
Um poema poente...
Para as pessoas
Que gostam de pessoas
Será que essas existem, pergunto eu,
Descrente?
Vaidades... Sem discussão!
Levam à maldade; à infâmia de querer
Ser mais e melhor que seu irmão.                      By EC

quinta-feira, 23 de julho de 2020


A procura.

À noite, sozinho...
Invade-me uma tristeza profunda,
Quero estar ao seu lado,
Contemplar, em paz, o caminho percorrido.

Porém, você já não está mais aqui
Então, sigo calado, o peito congelado
O coração perdido.

Procuro, em uma perspectiva lógica
Algum motivo, mera explicação...
Compreendo, entrementes, não haver
A não ser simplesmente o dito não.

Sentimentos que subvertem a razão,
Me provocam arrependimentos angustiantes,
Tento entender o que não é possível
Um exercício de melancolia,
Uma vez que há muito já havia partido,
E eu disto, tristemente, sabia.                         By EC

terça-feira, 21 de julho de 2020


Perdi a Poesia.

Recentemente,
Talvez de forma displicente,
Perdi a poesia,
Literalmente,

Não se tratava de uma grande obra,
Mesmo porque dessa não sou capaz
Era um fato presente,
Frequente,

Uma simples impressão de um ocaso
Vespertino, dolente
Nada extraordinário, especial, ele, o ocaso
Trazia a noite fria, outonal,

Fiquei sem poesia,
O espelho não revela mais, medonho
Um olhar vivo, atento, vibrante,
Apenas monótono e tristonho.

Sim, perdi a poesia.

Procurando a coisa perdida,
Mais que uma poesia, talvez a vida,
Enquanto passam outras tantas,
Despercebidas,

E eu, impassível e ao todo indiferente
Procuro pela poesia loucamente.                   By EC




2019

segunda-feira, 20 de julho de 2020


Escrito

Queria ter escrito
O verso perfeito
Em métrica e rima
Mas, o pensamento
Foi desfeito.

Queria muito ter falado
O que sentia
Por que e para quem meu coração batia
Mas, o pensamento
Me esvazia.

Queria, enfim, ter feito alegorias
Viagens, aventuras, romances e romarias
Uma taça de vinho e desmandos
Mas, o pensamento
Acabou com a fantasia

Queria, mas só queria...
E, acabei na madrugada, triste
Com a alma frustrada e vazia.


2020

domingo, 19 de julho de 2020


O céu da pele

No céu
Brilhavam estrelas, deusas e luas
Iluminando, a cidade adormecida
Que a madrugada trazia

Abracei-te e sussurrei ao seu ouvido – acorda!

Uma lágrima
De incontrolável alegria
Rolou, brincando, em trajetos incertos
Por suas costas macias

Depois sumiu...
Me deixando a ilusão
Que essas estrelas também são
Lágrimas
Rolando na pele serena de quem dormiu.                   By EC

Provavelmente 1990

sábado, 18 de julho de 2020


Minha alma.

Minha alma
Irmã da tua, voa indiferente, agora,
Vendo, alva, a lua.

Pequena parte daquela
Que também é parte dela.

Caminha, então
Na sua rua...
De mãos dadas com a sua.
Errantes, estrelas brilhantes,

Mas, aos teus olhos, os meus
Parecerão tristes ao luar
Pois a poesia dispensa os fatos,
Os atos, contratos...

E, entre a fantasia do teria sido.
E do que parecerá ter havido,
Optamos irrevogáveis, por sonhar....

Mas, meu coração é leve
E quando vier o adeus
Voará, E ao lado do teu, mansamente, pousará.    By EC


1990 aproximadamente.
Ilógico

Minha querida menina
Ilógico seria
Ser assim, lógica, a poesia.

E não óbvio talvez
Como não se supõe ser
O poeta é louco, e....
Logicamente consente
O que não sente...
E o que sente, desmente
Insistente...
Das suas vidas, conta no papel
Seu único real confidente.                              By EC

2020

quinta-feira, 16 de julho de 2020


Esperança

Aprendo enfim a enxergar
Ouvindo notícias do passado,
Quase sempre amargurado e quebrado,
Em vozes vizinhas às minhas,
Mas, me deixo embalar,
Em um sonho de lembranças de novos amores,
Que virão...sorrindo.
Não sei bem de onde,
Minha esperança de cores e flores,
Onde eu sei...
Não há na vida, nem seus atores,
Inefável e indolores.                                       By EC

Este poema e dedicado a uma amiga do twitter chamada Miroca
2020


A despedida.

O que se passava era então, passado,
Mas, não importa, que já nada passa...
Era assim talvez, que desejasse
Minha alma apaixonada
Escrever em um verso apenas
A imensa falta....
A distância enorme entre o passo e a porta,
Pela caminho até a outra...
Pressentindo um enorme sofrimento por vir
No tímido gesto de não ficar ou sair.                             By EC

1995

terça-feira, 14 de julho de 2020


Caixa de Palavras.

Achei aqui, jogadas algumas palavras soltas,
Esquecidas,
Algumas surpreendentemente magoadas...
Umas tinham uma aparência viçosa, de novas,
Enquanto outras velhas, antigas e empoeiradas

Resolvi juntar todas em uma caixa
Que chamei de caixa de palavras, um achado!
Seria, a princípio, uma caixa para guardar
Palavras....
Sem uso e sem significado.

Curioso que sou, comecei a olhar as palavras,
Antes soltas, mas agora presas em uma caixa,
Palavras simples como amizade, amor, simpatia, alegria...
Outras complicadas como nitente, solilóquio, consoada...

Em um relance de lucidez percebi,
O que não me cabia...
Aprisionar palavras, em uma caixa, outrora vazia.            By EC


2019


A prata da lua.

Nua, reflete na rua
Sob a chuva fina, o olhar do amante
A possibilidade deslumbrante que,
Esquece, por um ínfimo instante,
O romance que se nega à sua entrega.

Intrigantes juramentos febris, inúteis
À um amor impossível daquele que quis
Um arco-íris de aureola dourada na madrugada
Caminhando na noite fria, sem rumo, nem guia
Procurando na lua, na rua, luzidia...

Sonhando, admirado no próprio sonho, com tal beleza
Ao nascer do dia, adormece na tristeza da incerteza.                    By EC


2020

quarta-feira, 8 de julho de 2020


Prevalência Transitória.


A vida prevalece à morte,
Sendo a primeira transitória e
A segunda definitiva.

O mal prevalece ao bem,
Sendo o primeiro transitório e contínuo,
O segundo definitivamente divino.

O forte supostamente prevalece ao fraco
Sendo o primeiro transitório exercício e
O segundo perpétuo, severo e doloroso ofício.

O flexível prevalece ao rígido
Sendo o primeiro dócil e submisso,
O segundo permanentemente quebradiço.

Extraordinário!
De forma definitiva prevalece o transitório.                             By EC

Este poema ficou colocado em quarto lugar no Concurso Nacional Novos Poetas - 2015

terça-feira, 7 de julho de 2020


O passado

O passado pequena
Passou...
Quadro preso em um sonho
Que talvez, sonhou
Agora,
Nesta exata hora
O futuro chegou
Vivo, presente
Sonho, que nunca sonhou.                            By EC


1986

segunda-feira, 6 de julho de 2020


Sertão


Foi pensando no entardecer
Que ocorreu-me a questão
O que exatamente come
O homem do sertão?
O dia de trabalho
Escaldante sol, assoalho,
O que bebe a mulher sedenta no sertão?
Os meninos poeira,
Neste país da fartura,
A fruta madura
A cabra leiteira, o feijão de corda?
Acorda!
Entretanto, se não me engano
A macaxeira, ensejo
Não brota na pedra sofrida
Do solo sertanejo
A cana não nasce no duro chão
Em que labuta, em luta
O homem do sertão.
A água, arrancada, bruta
Se beber já está bom
A mulher corajosa, espera formosa
A água cair, fluir.
Em um poema de Deus,
Vai nascer a esperada,
Raiz da cana, um broto,
Que seja então!
O homem e a família
Comem em vigília,
Bebem com gratidão
Ali, daquele pedaço de chão
Não saem não.
No pó, o feijão....
Esperança e solidão.
Bravo povo do sertão.                                        By EC

sexta-feira, 3 de julho de 2020


Ser

Este vago, vazio ser
É meu único companheiro.
Vejo agora no espelho
Deste meu lado de ver.

Vejo um rosto inaceitável
Que nunca queria ter.

Do seu lado de imagem
Deve me ver sem coragem,
Que deste meu lado, miragem,
Julgo ter.                                           By EC


Versos independentes


Meus versos são
Pequenos sentimentos,
Sereno caminhar na linha
Deste e de outro momentos

Enigmas, substitutos
De palavras que não falei
Tão ternos, abraços, beijos
Que não ganhei...

Quase independentes....
São inteiramente,
Enormes vaidades
Pretendem, onipotentes
Reconstruir realidades.                                     By EC


O ter e o ser

Ali não existia nada
Que olhos pudessem perceber
Pedaço de estrada,
Apenas
Para se percorrer.

Mas era exatamente neste ponto
Que, aparentemente, nada tinha a oferecer
Que se travava o encontro,
Entre o ter e o ser.

E o ter, não era
E o ser, não tinha
Ainda, que fosse possível,
Nada, ninguém, por inteiro
Os continha.                                         By EC

Tudo no mundo é poesia.
Tudo no mundo é poema.
A poesia é contemplar o mundo pela palavra.

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