quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Irmão

 

Às vezes, me dá uma
vontade enorme de falar
com meu irmão.
 
Como quando éramos crianças,
e entre outras aventuranças,
brincávamos em cima dos muros e
nas lajes das casas. Belas lembranças!
 
Na rua, consideravam-nos terríveis
entre brincadeiras maldosamente boas
sentados no meio-fio
éramos imbatíveis.
 
Não tínhamos medo de nada
como se a vida fosse feita
para, entre uma e outra travessura,
crianças em suave ternura.
 
Autoridades policiais,
futebol, pega-pega,
outras brincadeiras entre os
treze e qualquer idade, o que importa?
Éramos imortais!
 
Um dia, sem maiores avisos
veio a vida como um rolo compressor
havíamos crescido, enfim  
estudamos, trabalhamos, casamos, separamos,
coisas assim.
 
O mais dolorido, de nos ver todo dia, o dia todo.
não era mais assim.
 
Mas nunca perdemos a incrível beleza de
brincar com a vida, nadar, até mesmo amar,
namoradas, bebedeiras, brigas, política, férias
passávamos juntos como irmãos devem passar.
 
E hoje, quero falar com ele.
Mas ele morreu.
- Mas como assim, morreu?
-Nós não morremos!
 
E ai, rola uma, duas, um monte
de lágrimas de meus olhos
esta saudade de tudo
perdi uma parte de mim
que nunca tive.
 
Vai meu irmão, milita, defende o seu PT,
briga, zomba da polícia, ai no céu.
Eu, por enquanto, estou aqui,
meio triste, meio perdido,
te procurando,
sem saber exatamente o que fazer e
onde encontrar você.                                   By EC
 
Homenagem ao meu irmão Fernando, falecido em agosto de 2018.

12 comentários:

  1. Boa noite, querido Poeta!!
    Lindo e emocionante o seu poema!!
    Parabéns!! 🌹
    Mara Lúcia Didonet

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    1. Ah querida Mara. Obrigado pela visita e pelo comentário. Demorei 2 anos e pouco para lê-lo, depois de escrito. A emoção da perda, não é?
      Abraços e ótimo fim de semana.

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  2. É mais ou menos como o poema que postei hoje. Vocês dois teciam tapetes.
    “ Colecionava cordões de nuvens
    E as enrolava feito novelos de lã
    Não sei o que pretendia
    Se era tecer um tapete
    Mais leve que o ar
    Ou uma simples mania.
    Faltavam algumas para a conclusão
    E foi buscá-las no bafo de um vulcão.”

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    1. Perfeito Tião.
      Mais que um irmão um grande amigo.
      Obrigado.
      Abraços e um ótimo fim de semana.

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  3. Ah Poeta Edu,lamentar a dor da perda e conseguir transformá-la em Poema,um poema triste, é certo, porém, tão bonito quanto a vida, tem que ser um Mestre, um POETA, porque não deve ser fácil chorar em forma de poesia.

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    1. Obrigado querida amiga Lenira.
      Pelo carinho pelo comentário emocionante e pela visita.
      Abraços afetuosos.

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  4. Emocionante sua narrativa em versos arrancados à fórceps do seu ser.
    É lírico como as lágrimas da sua saudade;
    É épico, porque atravessou fases desde a infância às conquistas adultas;
    É poético no uso da linguagem "...entre os 13 e qualquer idade,..."; revelando a grande metáfora da vida: ser feliz como criança.

    Perdi meu irmão há 3 meses e sinto em mim a sua dor. Que Deus nos dê forças!

    Parabéns, caríssimo poeta Edu 👏🏻👏🏻👏🏻
    Lindo poema

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  5. Ah querida e preciosa amiga Raquel.
    É tão dificil,não é?
    Este custou a sair. Não conseguia sequer lê-lo.
    Muito obrigado pelo carinho que sempre tens comigo, obrigado pela visita, pelos comentários, sempre instrutivos. Compartilhamos uma dor que nunca terá fim.
    Abraços minha querida amiga.

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  6. Emocionante o seu poema! Me fez lembrar uma parte muito dorida em mim! Abençoada seja nossa vida!🌻💙

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  7. Como lidar com perdas?
    Quando te leio, Edu, imagino três; o poeta na plateia, o terapeuta e o paciente no divã. E eles se movimentam nas linhas extraídas das entrelinhas...são três à confessarem, analisarem e julgarem, para por fim, concordarem com a necessidade de poetizar.
    Então, a resposta a pergunta. Como lidar...de tudo que elaboramos, nossas ações e reações partem do que necessitamos.
    Eu mesma, não sei lidar com a morte,fui criada pelos meus avós, quando perdi minha avó materna, já adulta e casada, me agarrei ao corpo e foi preciso o padre ter habilidade para me tirar de lá...enfim, nossas dores da alma.
    De alma para alma, um abraço de urso, meu querido amigo poeta ❤

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  8. Ah Cléo.... que lindo....
    De alma para alma....
    Adorei seu comentário e fico honrado pela visita.
    Abraços afetuosos.

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  9. Ao ler esse poema, as lembranças surgiram com intensidade e lagrimas.
    Lembranças de um passado antigo e um outro passado nem tão antigo assim.
    Obrigada, Eduardo.

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